Hoje quero partilhar convosco um
texto que leio e releio muitas vezes e me deixa sempre a pensar. Na verdade
esta história dos afectos é tão simples e nós temos a mania de complicar. De facto
ter afinidade com alguém é algo quase instantâneo e espontâneo que quando damos
conta já criamos uma relação forte e sólida na qual as palavras deixam de ser necessárias,
na qual o tempo,a distancia pouco ou nada interferem. Nos últimos tempos a
vida deu-me oportunidade de construir uma amizade em que a afinidade é a base
dessa relação e como o autor diz é algo raro, não é poético ou arrebatador como
a amor ou a paixão. Mas é parte integrante de um sentimento verdadeiro.
Quando leio as palavras do escritor a descrever a afinidade não posso deixar de concordar em pleno com ele
pois sinto, experimento diariamente estas sensações. A todas as pessoas com
quem tenho afinidade o meu muito obrigado por fazerem parte da minha vida, no entanto,
tenho de realçar a enorme afinidade que tenho por uma pessoa em concreto em que
tudo mas mesmo tudo o que está escrito no texto abaixo se reflecte, a ti,
deixo-te um obrigado especial!
A afinidade não é o mais brilhante, mas
o mais sútil, delicado e penetrante dos sentimentos. É o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os
adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer
reencontro retoma a relação, o diálogo,
A conversa, o afecto no exacto
ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando
a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjectivo para o objectivo.
Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial. Ter afinidade é
muito raro. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia
Durante e permanece depois que as
pessoas deixaram de estar
Juntas. O que você tem dificuldade
de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você
tem afinidade.
Afinidade é ficar longe pensando parecido
a respeito dos mesmos fatos que
Impressionam, comovem ou mobilizam. É
ficar conversando sem trocar palavras. É receber o que vem do outro com
aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com. Nem sentir
contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama
loucamente, mas
Sente contra o ser amado. Quantos
amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios. Sentir com é não ter
necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber. É mais calar do
que falar, ou, quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar.
Afinidade é jamais sentir por. Quem
sente por, confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente com, avalia sem se
contaminar. Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar.
Quem não tem
Afinidade, questiona por não aceitar.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais
esperanças. É conversar no
Silêncio, tanto nas possibilidades exercidas
quanto das impossibilidades vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em
que parou sem lamentar o tempo de
Separação. Porque tempo e separação nunca
existiram. Foram apenas
Oportunidades dadas (tiradas)
pela vida, para que a maturação comum pudesse
Se dar. E para que cada pessoa
pudesse e possa ser, cada vez mais a expressão do outro soba a forma ampliada do eu individual aprimorado.
(Artur da Távola)
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