Hoje deixo-vos por aqui um lindo conto de António Torrado. Ao
ler este conto fez-me recordar de diversas coisas, espero que também te ajude a
recordar ou a refletir nalgumas. Não importa as nossas crenças se existem ou não
gnomos e outros elementares que cuidam da natureza. Verdade é que a mãe
natureza e graciosa em se manter equilibrada. Que é rica e contem em sim um sem
número de riqueza disso ninguém tenha dúvida. Precisamos é de a respeitar e
cuidar dela.
Sinceramente, não sei de quem foi a sorte neste conto. Mas fica
uma questão para ser respondida de quem foi a sorte? Claro está isto de acordo
com o vosso ponto de vista.
A sorte do pintassilgo
“Era uma vez um velho lenhador. Andara a vida inteira a
percorrer a
floresta e, agora que as forças já lhe faltavam para
empunhar o
machado, passava os dias, tristemente, à porta do seu
casebre.
Entre as lembranças mais antigas que lhe preenchiam a
memória,
recordava-se de uma história que o tinha encantado, na
infância. Nela
se contava que havia, na floresta, anõezinhos tão pequenos que
nem um
palmo mediriam. Os anões ou gnomos, tanto faz, guardavam,
num
esconderijo, pedras de ouro puro, acumuladas, ao longo de
séculos pelo
trabalho incansável de várias gerações de mineiros
anõezinhos.
O lenhador, que conhecia a floresta de lés a lés, nunca vira
um gnomo
nem, a bem dizer, acreditava que a história correspondesse à
verdade.
- Invenções para entreter meninos. E velhos... – dizia ele
de si para
si, com um sorriso desencantado.
Mas não é que, um dia, descobriu mesmo um gnomo?
Um gnomo a dormir, de boca aberta, junto à raiz de um
pinheiro da
floresta, era uma descoberta fantástica.
O lenhador agarrou-o pela cintura como quem agarra um
gafanhoto e gritou-lhe:
- Afinal, sempre é verdade. Agora, só falta saber o segredo
do tesouro
dos gnomos…
O homenzinho, preso entre o polegar e o indicador do
homenzarrão,
debatia-se e protestava que nunca tinha ouvido falar em tal
tesouro.
- Se não me dizes, onde o esconderam, aperto-te a barriga,
que nem
tempo tens para dizer "Chega" – ameaçou o
lenhador.
E era bem capaz... A possibilidade imprevista de vir a ficar
rico,
riquíssimo, quase o enlouquecia.
- Diz-me onde está o tesouro ou esborracho-te – insistiu o
lenhador.
O gnomo, não tendo outra alternativa, acabou por apontar uma
árvore,
confessando que, debaixo da raiz da árvore, numa loca,
estava,
agasalhado entre musgos, o maior tesouro do mundo.
- Já vamos saber se é como contas – disse o lenhador.
Mas entardecia. Era Inverno, estação do ano em que, como se
sabe, a
noite cai cedo e depressa. O lenhador, contrariado por ter
de guardar
para o dia seguinte o que queria resolver naquele dia, fez
uma cruz a
canivete, no tronco da árvore indicada, e disse:
- Amanhã voltamos cá e, pelo seguro, tu hoje à noite vais
ficar
hospedado em minha casa.
Maneira de dizer… hospedado no casebre, isto é, prisioneiro
na gaiola,
donde despejou um pintassilgo. Sorte para o pintassilgo.
O lenhador, nessa noite, dormiu mal. Quanto ao gnomo, nunca
saberemos
se dormiu bem ou não, visto que, na manhã seguinte, o
lenhador deu com
a gaiola vazia.
- Mas o tesouro há-se estar onde ele apontou – animou-se o
lenhador.
De enxadão ao ombro, avançou para a floresta.
- Cá está a árvore que eu marquei – exclamou.
Efetivamente, a árvore tinha uma cruz, no tronco, riscada a
canivete.
Mas outras árvores perto e outras longe tinham uma cruz
igual. Não
havia uma única árvore da imensa floresta que não exibisse
uma cruz,
em cheio, no dorso do tronco.
Os gnomos, pela calada da noite, tinham trabalhado bem.
O lenhador, a sentir-se ainda mais velho e ainda mais cansado,
deixou
o enxadão encostado a uma das árvores, e voltou para casa,
de cabeça
baixa. Nada ganhara e até o pintassilgo da gaiola ele tinha perdido.
“ .
apetece-me terminar assim “Quem tudo quer, tudo perde.”
Sem comentários:
Enviar um comentário